Deitada sobre a relva verde, se encontrava uma garota, cujo nome não é importante para o pequeno conto do momento. Olhava para o céu incrivelmente estrelado. Ela contava quantas estrelas conseguia contar, se perdendo várias vezes na contagem. Não se cansava daquela atividade, lhe era aprazível e não lhe fazia ter pensamentos indesejados. O vento tocava-lhe a tez alva, fazendo cócegas em suas bochechas. O tempo estava ameno, nem quente e nem frio. E o cheiro da grama lhe invadia as narinas. Aquela combinação de sensações somada ação de contar estrelas lhe tomavam a atenção. Tentava não pensar sobre o mundo a sua volta, mas sua mente era seu pior inimigo, lhe compelindo a devanear acerca do que não almejava, por isso contava estrelas e por contar estrelas era mais feliz, pelo menos naqueles poucos minutos que não se cansara de conta-las. Contou 68, 110, 200, 345 estrelas. Mas se perdia no meio de tantas e a contagem recomeçava. E por recomeçar tantas vezes que lhe veio a fadiga, e ela automaticamente parou de contar estrelas.
Então sua mente voltou a lhe pregar peças, não tão saborosas assim, um pouco amargas. Pegou-se pensando na solidão daquela viagem que havia feito. Uma viagem realizada sem planejar, dentro do carro, voltando pra casa depois da última aula do seu penúltimo período. Uma viagem para um lugar qualquer escolhido aleatoriamente no mapa. Uma mochila nas costas, saiu com o carro a fora. Parou naquela fazenda e se deitou sobre a relva. E começou a contar estrelas. Até que o cansaço chegou e a história voltou pro seu meio, como num ciclo vicioso, o que é redundante, mas para o conto que estou contando sobre a garota da relva o português me permite essa licença poética.
Ela parou de contar estrelas e começou a pensar sobre a própria vida. Na solidão momentânea. Faltava algo para aquela viagem ser incrível. Sim, faltava sua cara metade. O responsável por causar aquela estranha sensação de borboletas voando dentro de seu estômago. Aquele responsável por lhe roubar o fôlego em um beijo demorado. Aquele responsável por lhe fazer sorrir idiotamente. Faltava. E ela nunca encontrava. Por isso parou de procurar. Parou de procurar e deixou se encontrar com ele em seus rabiscos, nas palavras soltas de seus contos, nas metáforas que compunham sua vida.
No mundo de sua mente ele lhe dava flores, jantavam à luz de velas, riam de qualquer bobagem dita, aproveitavam a vida como deveria ser aproveitada, intensamente. Ela era intensa. Intensa nas emoções. Intensa nos sentimentos. Intensa na vida. Intensa. Não gostava de meio termo. Era tudo ou nada. 8 ou 80. Amante da vida. Romântica em hipérbole. Sonhadora utópica. Sonhava com um mundo melhor, porque acreditava na existência dele, e quando se acredita, isso torna-se real. Enxergava tudo ao seu redor com óculos colorido, mas sem perder as nuances em preto e branco que manchavam a pintura e a tornavam mais reais, mais palpáveis, ainda que duras e sofridas.
Era por isso que não queria parar de contar estrelas. Parava e pensava. E pensava demais. Sem seguir uma linha de raciocínio. Pensava e pensava e pensava. Não se cansava. Mas era preciso parar, caso contrário iria explodir. Então voltava a contar estrelas. E por contar estrelas é que não pensava. E às vezes não pensar lhe dava pequenos, porém satisfatórios momentos de felicidade plena, felicidade proveniente dos detalhes. Contava estrelas para esvaziar a mente. E por contar estrelas é que acabava, no fim, por pensar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário