Alice
Texto escrito por Rebeca Vilaça
Em um momento de um monólogo, uma
demorada conversa comigo mesma, sem me importar de parecer louca, porque de
louco todos temos um pouco e por que ser normal se você pode ser louco, afinal?
Nesse momento em que fui Alice, perdida no meu próprio país das maravilhas,
descobri todas as cores da minha essência e ainda descobri que gosto de todas
elas. Gosto de cada particularidade minha, mesmo que eu soe louca, maluca,
bizarra, estranha, assustadora. Eu gosto, porque é o que me pinta. Esses traços
tortos que desenham um rosto e dão vida às minhas feições de garotinha frágil
são meus e são bonitos. E eu gosto. Gosto do que sou, mas também gosto de
adaptar o que sou ao mundo em que estou, apesar de não gostar muito desse mundo
atual. Para uma Alice que busca cores quentes e um romance utópico, o mundo
real é cinzento, frio e vazio. Por isso ela foge para seu país das maravilhas,
moldado por palavras que se cruzam e formam frases e a partir delas são
desenhados diversos personagens. Lá é seguro, lá é confortável, lá é seu
refúgio, lá é seu lar. Se enfia em metáforas que dão vida à sua imaginação. Sou
tão louca que falo em primeira pessoa para depois falar em terceira. Sou eu,
sou Alice, sou duas em uma e uma em duas. Busco o amor em sua forma mais
simples, mesmo sem saber amar, e ainda assim sou capaz de também amar. Acredito
nele, mesmo dizendo que desacredito. Cheguei a essa singela conclusão nesse
monólogo em que eu conversei comigo mesma. Percebi que não dá pra fugir de quem
eu sou, não posso me vestir de chapeleira e atuar para sempre, porque sou
Alice. Sou a garotinha que quer encontrar um par, que quer namorar e
eventualmente se casar. Sou a garotinha que mesmo adulta ainda brinca com
crianças, que se diverte com elas e que ri com facilidade. Sou a garotinha que
sonha em cuidar e proteger aqueles que ama. Sou a garotinha que almeja deixar
uma marca na sociedade, que não quer ter uma vida vazia, que quer viajar e
conhecer o mundo, que quer ser grande mesmo sendo tão pequena, que quer viver
um romance utópico, que quer beijar debaixo da chuva. Sou a garotinha de laço
amarelo na cabeça, esperando um alguém que a complete, porque ela já aceitou
que não é completa só com ela mesma, ainda falta uma parte e ela não se importa
de ser esse quebra-cabeça incompleto, afinal, ela é assim e se aceitou como é.
Ela é a Alice, ela sou eu, perdida em seu próprio país das maravilhas a espera
de um único sorriso para admirar.
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