Metáfora das Estações



Metáfora das Quatro Estações
Texto escrito por Rebeca Vilaça

Quando eu te encontrei no verão do meu inverno, achei que poderíamos ser mais do que um simplório outono. Poderíamos ser uma primavera, com toda sua alegria, seu esplendor, sua exuberância. Mas preferimos nos tornar um implacável inverno, escondidos em nossas próprias cascas, em nossas próprias casas, debaixo de cobertores emocionais que julgamos erroneamente serem nossa proteção vital. Eu não o atinjo. Você não me atinge. A gente fere a si próprio. Poderíamos ter sido quentes e cheios de vida como verão. Mas optamos por nos tornarmos frios e distantes como o inverno. Criamos uma barreira de neve para impedirmos que nos aproximássemos mais do que deveríamos um do outro, acabamos por nos afastar. Quando eu te encontrei na solidão do outono, com suas folhas caindo no chão para murchar, procurei implantar a primavera para que você pudesse sorrir, pudesse esquecer daquele verão. Aquele verão que nunca vai sair de sua mente. Aquele longínquo verão que durou primaveras e primaveras. Aquele verão nostálgico. Tentei, tentei, tentei trazer um novo verão, mas o seu inverno apagou todo o calor que eu estava disposta a emanar. Inverno e verão, você e eu. Antagônicos até nas estações. Chame-me quando seu inverno se tornar uma primavera. Prometo não mais importuná-lo com o meu verão. Mas caso o outono chegue para mim, aviso-lhe que será tarde demais, pois estarei me preparando para encarar mais um novo inverno e o verão não terá vez. Traga-me logo seu verão para que eu possa finalmente abandonar o meu inverno. Não demore. Não demore. Venha logo. Quando eu te encontrei no verão do meu inverno, você me mostrou cada peculiaridade das suas estações. E a que eu mais gostei foi ironicamente do seu inverno, afinal, você é o inverno mais bonito que eu já presenciei.

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